Às vezes eu queria o ideal da ostra
Ficar parado, quieto, para ver se faço pérola
Camada por camada, célula por célula
Da gênese do núcleo até a brilhante crosta
Livrar-me das amarras desse dia-a-dia
Apaziguar o tempo, fazê-lo meu sócio
Conceber, lentamente, das entranhas do meu ócio
A pérola que me é cara, minha poesia
Como faz, ao laborar, mexilhão fantástico
No profundo oceano, silencioso, estático
Convulsionando em seu âmago, simples grão de areia
Faz nascer jóia delicada, marinha lua cheia
Aliás, comparação melhor não creio que houvera
Os astros do infinito e a marinha biosfera
Em ambos há estrelas e bólidos errantes
Enigmas, mistérios, belezas delirantes!
Mas até em poemas cinzas e temas comezinhos
Distantes de astros e de encantos marinhos
É preciso transcender em busca do lirismo
Flutuar na psiquê, mergulhar no abismo
Por isso o ideal da ostra é legítima ambição
Silêncio e solitude para a criação
Pois não é questão o tema, lógico ou onírico.
Mas a busca no étereo, pelo instante lírico
Contudo, em um mundo onde impera, em muitos, sonho único
É quase uma sandice, ainda buscar o lúdico
Perder tempo em devaneios, escândalo! Pecado!
"Sonhos?! Só os de consumo!"_Brada o deus Mercado
E odedece-o o homem moderno como que em transe robótico
Diluído em cotidiano de ritmo caótico
Porém, as vezes quebra a ordem som subversivo
Grita o poeta que há em nós: _Ainda estou vivo!
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